Em Cuiabá, mais um caso de homofobia foi registrado. A vítima, Douglas Amorim, 37 anos, psicólogo clínico que atende, principalmente, mulheres vítimas de relacionamentos abusivos, também é palestrante e escritor, não imaginava que seu nome entraria em evidência após sofrer um ataque covarde em uma noite que deveria ser lembrada como um momento de descontração entre amigos, parentes e seu companheiro. A agressão, motivada por homofobia, aconteceu na madrugada de domingo, 12/01, no bar Nuun Garden. O suposto agressor, Yuri Matheus Siqueira Matos, foi detido pela Polícia Civil e prestou depoimento na quarta-feira, 15/01.
Ao jornal Centro Oeste Popular, a vítima descreveu em detalhes a sucessão de acontecimentos que levaram até o momento em que foi covardemente agredido. Segundo o psicólogo, os ataques homofóbicos teriam iniciado antes da agressão física de fato, quando, horas antes, ao observar trocas de afeto entre os amigos de Douglas, Yuri e seus companheiros olhavam e comentavam coisas que não eram possíveis de compreender por conta do som alto. Contudo, ali já estava, segundo ele, “explícito que se tratava de um olhar homofóbico”.
Após o ocorrido, acontece o primeiro conflito. No banheiro, Douglas foi confrontado por Yuri, que alegou que a vítima teria tentado olhar sua genitália. Nesse momento, houve uma possível denúncia de Yuri aos seguranças da casa, que, segundo Douglas, apresentavam uma postura amigável ao agressor desde o momento em que chegaram na festa. “Desde a chegada, ele demonstrava amizade com os seguranças. Conversavam como se fossem todos amigos”, relatou.
Uma pequena confusão teve início, mas logo foi apaziguada, e as trocas de olhares cessaram. Até que, horas depois, Douglas, seu marido e um amigo foram até o banheiro. Lá, Douglas utilizou o mictório, seu marido entrou em uma das cabines privativas, e o amigo permaneceu no corredor. Uma das cenas vazadas na internet mostra Yuri se preparando para o momento em que agride a vítima. “Eu estava de pé utilizando o mictório quando senti duas mãos, uma, nas minhas costas e outra na nuca, me empurrando contra a barra de mármore que fica em cima dos mictórios para apoiar bebida. Esta é a última memória que tenho antes da agressão”, relatou Douglas. Ele continuou explicando que, ao cair e bater a cabeça, teve uma pequena convulsão e perdeu muito sangue do rosto.
Segundo relatos, ao escutar um barulho, Eloísio, marido da vítima, saiu do reservado e encontrou Douglas caído no chão com o órgão genital exposto. Na tentativa de prestar os primeiros socorros, Eloísio e o amigo tentou levantar a vítima para levá-lo ao pronto-socorro.
Nesse momento, de acordo com Douglas, os seguranças e bombeiros do local apenas observaram ele saindo do banheiro, ensanguentado, sem prestar assistência ou impedir que o agressor deixasse o local onde o crime ocorreu. A casa de festas não ofereceu, naquele momento, nenhuma assistência à vítima.
Até o momento em que esta matéria foi escrita, o agressor ou a casa de festas não havia contatado Douglas para prestar apoio.
Receoso de como este episódio pode afetar sua vida, a vítima tem relatado em suas redes sociais os desdobramentos da história. Chegaram até ele relatos de outras pessoas que já tiveram desavenças com Yuri, incluindo uma denúncia de racismo contra um bombeiro militar na mesma casa de festas, em 2022. Com medo e vergonha, Douglas ainda não conseguiu voltar ao trabalho e se isola em casa para tentar se proteger de possíveis represálias por estar expondo o caso de homofobia.
Após o vazamento de imagens de segurança, onde uma montagem tenta criar a narrativa de que a vítima, supostamente, estaria alterada, Douglas comentou que essa é uma manobra para “aliviar todos e colocar sobre a vítima uma culpa”.
Nas redes sociais, após contar seu relato em vídeo, Douglas tem recebido apoio de autoridades, como deputados, vereadores e artistas de Cuiabá. Em especial, conta com o suporte da comunidade LGBTQIAPN+, que acionou o Grupo de Combate aos Crimes de Homofobia da SESP. Para o psicólogo e escritor de 37 anos, esse apoio vem em um momento inesperado, vindo também de pessoas que ele admira. “Não me sinto só”, afirmou, esperando que as autoridades policiais conduzam uma investigação e prendam quem o atacou covardemente em um momento de vulnerabilidade.