19 de Abril de 2025

GERAL Segunda-feira, 14 de Abril de 2025, 16:15 - A | A

Segunda-feira, 14 de Abril de 2025, 16h:15 - A | A

ESPAÇO PARA TODOS

Ambulatório Trans se destaca em Cuiabá, com mais de 137 atendimentos desde sua abertura, garantindo assistência de qualidade à população LGBTQIAPN+

A unidade especializada tem como objetivo oferecer atendimento de qualidade e atenção básica à saúde para todos, além de realizar o acompanhamento clínico, pré e pós-operatório, promovendo uma atenção especializada no processo transexualizador

Ana Carolina | Redação

Em 2024, o Brasil manteve-se, pelo 17º ano consecutivo, como o país que mais mata pessoas trans no mundo, com 105 mortes registradas. Apesar de uma leve redução em relação a 2023 — com 14 casos a menos — o cenário continua alarmante. Os dados são do dossiê "Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024: da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira", elaborado pela Rede Trans Brasil.

A Região Nordeste concentrou a maior parte dos casos (38%), mantendo-se como a mais letal para pessoas trans desde 2022. Em seguida vêm as regiões Sudeste (33%), Centro-Oeste (12,6%), Norte (9,7%) e Sul (4,9%). Em números absolutos, São Paulo lidera com 17 assassinatos, seguido por Minas Gerais (10) e Ceará (9). A maioria das vítimas era composta por mulheres trans ou travestis (93,3%), com idades entre 26 e 35 anos (36,8%), de cor parda (36,5%) ou preta (26%), e atuava majoritariamente no trabalho sexual.

Quanto aos autores dos crimes, 14 casos envolveram companheiros ou ex-companheiros, nove foram cometidos por clientes e outros nove indicam envolvimento com dívidas, drogas ou organizações criminosas. As mortes ocorreram, em sua maioria, em vias públicas, com o uso de armas de fogo ou armas brancas. A pesquisa também revela que 66% dos casos ainda estão sob investigação, enquanto apenas 34% resultaram na prisão de suspeitos. Sobre o respeito à identidade das vítimas pela mídia, 93,3% dos registros utilizaram corretamente o nome social, mas 6,7% ainda referiram-se às vítimas pelo chamado “nome morto”.

O levantamento integra o trabalho da Rede Trans Brasil em parceria com o projeto internacional Trans Murder Monitoring, que monitora assassinatos de pessoas trans e de gênero diverso em todo o mundo. Globalmente, foram registrados 350 assassinatos em 2024, sendo 255 apenas na América Latina e no Caribe. O Brasil lidera com 106 casos, seguido pelo México (71) e Colômbia (25).
Como resposta às demandas históricas dessa população e em busca de ampliar o acesso à saúde com qualidade e infraestrutura adequadas, foi inaugurado, em agosto de 2024, o Ambulatório de Atenção à Transexualidade. A unidade, administrada pela Secretaria de Estado de Saúde (SES), funciona no Centro Estadual de Referência de Média e Alta Complexidade de Mato Grosso (Cermac), em Cuiabá, e recebeu apoio da primeira-dama Virginia Mendes. O investimento do Governo do Estado foi de aproximadamente R$ 5 milhões.

Iuzo Reis

Créditos luzo Reis.jpeg

 

O espaço tem como objetivo oferecer um ambiente humanizado e acolhedor, aliado a um serviço qualificado de assistência e promoção à saúde. O ambulatório busca garantir o direito ao atendimento digno, respeitando identidades e expressões de gênero, com foco na promoção da saúde integral. Desde sua inauguração, já foram realizados 137 atendimentos, entre 1º de setembro de 2024 e 20 de março de 2025.

A abertura do ambulatório representa um avanço importante para a saúde pública em Mato Grosso, consolidando-se como um espaço de acolhimento e cuidado para pessoas trans e travestis. Pacientes de 27 municípios já foram encaminhados para atendimento pela Rede Municipal de Saúde, sendo 80 de Cuiabá (58,4%), 20 de Várzea Grande (14,6%), seis de Lucas do Rio Verde (4,6%) e os demais distribuídos entre cidades como Rondonópolis, Campo Verde, Canarana, Alto Taquari, Paranatinga e Tangará da Serra.

Segundo a SES, no período analisado, foram registrados 775 atendimentos: 239 de enfermagem, 231 de clínica geral, 135 de psicologia, 130 de serviço social, 33 de endocrinologia e sete de urologia. As autoridades estaduais reforçam a importância de garantir um atendimento humanizado e de qualidade para pacientes trans, ressaltando que o acolhimento adequado é essencial para o bem-estar e a dignidade dessa população.

O ambulatório oferece atendimento multidisciplinar e é responsável pelo acompanhamento de pacientes inseridos no processo transexualizador, com protocolo que exige, no mínimo, dois anos de acompanhamento clínico na fase pré-operatória e até um ano no pós-operatório. Além disso, realiza hormonioterapia, quando indicada para a cirurgia de redesignação sexual. O serviço é destinado a pessoas trans e travestis, com idades entre 18 e 75 anos, residentes nos 142 municípios de Mato Grosso.

Lupita de Amorim Novais Silva, 26 anos, usuária do ambulatório e ativista dos direitos LGBT, destacou a importância da conquista para a população trans. “O primeiro Ambulatório Trans de Mato Grosso é uma conquista extremamente importante. Representa não apenas o acesso à saúde, mas o reconhecimento da nossa dignidade enquanto sujeitos de direitos. Ter um espaço especializado, com profissionais preparados para atender as especificidades da população trans, impacta diretamente na nossa saúde física, mental e emocional”, afirmou. Lupita também ressaltou que o projeto é fruto da articulação de movimentos sociais, coletivos e organizações LGBT em parceria com instituições como a Defensoria Pública de Mato Grosso.

Para ter acesso ao serviço, é necessário um encaminhamento médico da Atenção Primária à Saúde, respeitando a disponibilidade de vagas no Sistema Estadual de Regulação (Sisreg). A equipe do ambulatório é composta por dois psicólogos, dois assistentes sociais, um médico clínico geral, um endocrinologista, um ginecologista, um urologista, um psiquiatra e um enfermeiro. O atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, na Rua Thogo da Silva Pereira, nº 63, região central de Cuiabá.

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