O Morro da Luz, atualmente denominado Parque Antônio Pires de Campos, foi tombado como patrimônio histórico municipal pelo Decreto de Lei nº 870, de 13 de dezembro de 1983. O nome homenageia Antônio Pires de Campos, filho de Manoel de Campos Bicudo, um dos primeiros desbravadores a chegar à região.
O parque também ficou conhecido como “Morro da Luz” devido à presença de uma pequena casinha — a subestação da usina de Casca I — responsável pela distribuição de energia elétrica, inaugurada em 1928. Com características ambientais únicas, o local desempenha um papel fundamental na qualidade ambiental de Cuiabá. Sua temperatura média é de 3 a 4 °C mais baixa que a do centro da cidade e, por estar localizado na região da Prainha, contribui para amenizar o efeito das ilhas de calor — bolsões de ar quente formados entre construções urbanas.
Além de seu valor ambiental, o parque é também um importante ponto cultural, sendo parte da formação da cultura popular cuiabana. É repleto de trilhas e praças que receberam nomes em homenagem a personagens marcantes da história da cidade. Cada nome remete a uma figura singular da cultura local, e essas homenagens são representadas nas trilhas e praças para preservar e celebrar essas histórias.
Entre as figuras homenageadas estão Maria Taquara, que usava calça comprida — uma vestimenta rara para mulheres da época — e carregava feixes de lenha na cabeça; Tufica, que contava histórias às crianças que iam ao Cine Teatro Cuiabá e estendia seu chapéu em busca de contribuições financeiras; Zé Bolo Flor, compositor e cantor que se apresentava em praças e feiras recebendo pequenas contribuições; e Michidinha, torcedor fanático do Dom Bosco, sempre vestido com as cores do clube e dançando ao ouvir seu apelido.
Outros nomes notáveis incluem Juvenal Capador, conhecido por se irritar quando chamado por seu apelido; Plínio Rait, um garçom simpático que cumprimentava todos com a expressão “o rait”; e João Cuíca, ator principal das peças dirigidas pelo Pe. Pombo, conhecido por seu tradicional “São João de João Cuíca”.
Também são lembradas figuras como Maria Perna Grossa, cartomante e benzedeira que sofria de elefantíase; Cobra Fumando, cambista de loteria que sempre aparecia com um cigarro no canto da boca e os braços trêmulos, oferecendo bilhetes; e Chico Alicate, que acreditava ter uma esposa imaginária chamada “Lourdes” e perambulava pela cidade à sua procura.
Preta, que encantava as crianças na Praça Alencastro com seus “contos de roda”; Hélio Goiaba, compositor de marchinhas carnavalescas como “Quer Tocar, Toca” e “Oh! Rosa”; e Antônio Peteté, figura religiosa de baixa estatura que carregava um terço, um livro de rezas e um leque, também fazem parte do imaginário popular presente no parque.
Do ponto de vista ambiental, o Morro da Luz é rico em espécies arbóreas que contribuem para a preservação da biodiversidade da região. Entre elas estão: Gonçaleiro, Bocaiúva, Farinheira, Pata-de-vaca, Gabiroba, Embaúba, Pé-de-anta, Louro, Lixeira, Falso-barbatimão, Guatambu, Pé-de-perdiz, Jatobá, Folha-de-serra, Pitomba, Ipê-roxo, Ipê-amarelo, Ipê-branco, Pimenta-de-macaco, Jacarandá, Sete-cascas e Jenipapo. Essas espécies contribuem para o equilíbrio ecológico e realçam o charme natural do local, consolidando-o como um espaço essencial para Cuiabá.
Com o passar dos anos, o local, que antes atraía visitantes, transformou-se em um dos maiores temores da população cuiabana, principalmente para quem transita pelos arredores. Segundo o Jornal Centro Oeste Popular, o parque tornou-se ponto de consumo de drogas, dormitório para moradores em situação de rua e exemplo de abandono por parte das gestões anteriores.
Esse processo de degradação aumentou os índices de assaltos na região, levou ao fechamento de comércios e gerou acúmulo de lixo — como marmitas e latinhas — deixado por quem ocupa o local. Outro problema grave é a ausência de iluminação durante a noite, o que aumenta a sensação de insegurança.
Durante a campanha eleitoral de 2024, o Morro da Luz foi um dos temas mais debatidos por candidatos a vereador e prefeito. Muitos prometeram projetos de revitalização com o objetivo de devolver vida e dignidade ao espaço.
Nos primeiros 90 dias de gestão, no entanto, a realidade ainda contrasta com as promessas. Apesar disso, o vereador Dilemário Alencar reafirmou seu compromisso com a requalificação do parque. Para ele, o Morro da Luz foi negligenciado por anos e hoje se assemelha a uma cracolândia. A proposta é transformá-lo em um local seguro, acessível e moderno, preservando sua história.
O projeto prevê áreas de caminhada, ciclovias, mirante, iluminação adequada e infraestrutura para lazer e contemplação. Com custo estimado de R$ 50 milhões, Dilemário articula apoio do prefeito Abílio (PL), do governador e da bancada federal para garantir os recursos necessários.
A vereadora Maysa Leão (Republicanos) também se manifestou favorável à revitalização. Em coletiva de imprensa, afirmou que o prefeito tem se empenhado em buscar soluções, mas que o projeto depende da suspensão do estado de calamidade pública, vigente em Cuiabá.
“Conversamos com o prefeito esta semana. Ele explicou que o estado de calamidade pode ser encerrado antes do previsto, pois, já conseguiu economizar R$ 111 milhões nesses primeiros 90 dias, através de ajustes em contratos. Estamos aguardando o parecer da Procuradoria para que os investimentos possam começar. No primeiro dia de liberação, queremos o Morro da Luz como prioridade. Foi promessa de campanha de muita gente”, declarou Maysa.
O outro lado
A Prefeitura de Cuiabá, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, esclareceu em nota que a revitalização do Morro da Luz está entre as prioridades da gestão. Em 2025, o parque completará 100 anos, sendo o primeiro da Região Centro-Oeste.
As ações têm como objetivo preservar o valor histórico e ambiental do espaço, além de transformá-lo em um ponto turístico e cultural de contemplação. Em março, uma audiência pública na Câmara Municipal discutiu a revitalização com o apoio do Legislativo. Em fevereiro, o tema foi debatido com a Casa Civil do Estado, que também é parceira no projeto.
Como parte das medidas emergenciais, a Empresa Cuiabana de Zeladoria e Serviços Urbanos (Limpurb) realizou, em março, uma limpeza que retirou 30 toneladas de resíduos do parque. Também foram executadas capinação, roçagem, pintura de meios-fios, varrição, manutenção da iluminação pública e eliminação de pontos de descarte irregular de lixo.
Segurança e assistência social
Outra frente da Prefeitura é a busca por soluções humanizadas para os moradores em situação de rua, com parcerias junto ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), o Governo do Estado e o Ministério Público.
No dia 17 do mês passado, o prefeito Abílio Brunini, o desembargador Orlando Perri e o promotor Henrique Schneider Neto vistoriaram o local. Uma das propostas discutidas foi a suspensão de facilidades que favorecem a permanência dessas pessoas no parque, além da criação de centros de atendimento com suporte psicológico e social.
A gestão também anunciou que, por meio do Programa Vigia Mais, da Secretaria de Segurança do Estado, serão instaladas mais de 4.700 câmeras de monitoramento em Cuiabá, abrangendo locais estratégicos como o Centro Histórico, o Beco do Candeeiro e o próprio Morro da Luz.