Em um mundo que caminha para soluções urbanas mais sustentáveis, humanas e inteligentes, Cuiabá ainda se apoia em modelos de infraestrutura ultrapassados, que não dialogam com nossa cultura, história nem com as condições climáticas extremas da nossa cidade. Como vereadora e ativista da inclusão, venho refletindo — com base na minha formação em Urbanismo e Cidades Inteligentes — sobre o quanto nossas escolas públicas permanecem presas a um modelo do século passado.
Recentemente, em uma das aulas do curso de pós-graduação da PUC-PR, estudamos o trabalho do arquiteto Francis Kéré, natural de Burkina Faso — país africano marcado pela pobreza, mas também pela sabedoria ancestral e inovação comunitária. Kéré projetou escolas com materiais locais, mão de obra da própria comunidade e soluções arquitetônicas adaptadas ao clima severo e à escassez de energia elétrica, utilizando a inteligência do design para garantir conforto térmico, ventilação natural e luminosidade adequada. Uma verdadeira aula de arquitetura social.
O contraste com Cuiabá é inevitável. Vivemos em uma das capitais mais quentes do país, com temperatura média superior a 35ºC durante boa parte do ano, e ainda assim nossas escolas continuam sendo construídas como se estivéssemos em outro século — sem ventilação adequada, sem sombras naturais, e frequentemente com pouca acessibilidade.
Não se trata de pedir mais recursos financeiros, mas sim de cobrar mais planejamento, sensibilidade e inteligência na gestão urbana. Nossas ruas são estreitas, muitas sem calçadas, sem acessibilidade, e com cobertura arbórea muito aquém do necessário. Temos total capacidade técnica e legal para aprovar e implementar um novo modelo de cidade. O que nos falta é gestão política orientada para a mudança.
É urgente revisar nosso Plano Diretor, investir em arborização urbana, colocar o conforto climático e o regionalismo como diretrizes das obras públicas. As escolas devem ser o ponto de partida dessa transformação. Mais do que espaços de ensino, elas devem ser centros de convivência, inclusão e formação cidadã. E para isso, precisam ser pensadas como tal — desde o projeto arquitetônico.
Como ativista da inclusão, insisto: precisamos projetar espaços que considerem as múltiplas realidades das pessoas que os utilizam. Uma escola só é verdadeiramente pública quando é acessível, acolhedora e adaptada para todos — especialmente para aqueles que mais precisam.
Conforto climático, inovação, participação popular e respeito às identidades locais devem guiar essa nova arquitetura pública. E essa mudança começa pela forma como escolhemos construir o futuro: tijolo por tijolo, com inteligência, responsabilidade e inclusão.
Você já tinha parado para pensar nisso?