O primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro foi marcado por apresentações grandiosas, com muito brilho, enredos potentes e performances impressionantes das escolas de samba na Marquês de Sapucaí.
Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Unidos do Viradouro e Estação Primeira de Mangueira foram as primeiras escolas a se apresentarem na Sapucaí durante o Carnaval 2025. As agremiações mostraram criatividade nos carros alegóricos, fantasias ricas em detalhes e sambas-enredo que empolgaram o público. Apesar dos problemas com o carro de som que falhou em ao menos três momentos, no desfile de UPM, Imperatriz e Mangueira. A Liesa culpou a empresa que faz o som, e disse que os problemas foram corrigidos e “os desfiles transcorreram sem problemas na sequência”.
Na estreia do novo modelo de quatro desfiles por noite, ao invés de seis, nenhuma das escolas estourou o tempo, respeitando o máximo de 80 minutos. A Mangueira encerrou sua passagem pela Sapucaí às 4h11, antes do amanhecer.
Entre os destaques da noite, Imperatriz Leopoldinense e Viradouro surpreenderam com desfiles tecnicamente impecáveis. Enquanto Unidos de Padre Miguel e a Estação Primeira de Mangueira, enfrentaram desafios, como problemas em alegorias ou dificuldades de evolução. Mas a vibração das arquibancadas e o envolvimento dos componentes foram pontos altos, garantindo um espetáculo emocionante.
A primeira agremiação a entrar na avenida, foi a Unidos de Padre Miguel, que trouxe para o Carnaval 2025 o samba-enredo “Egbé Iyá Nassô”, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira.
Cinco décadas depois, a escola volta ao Grupo Especial exaltando a ancestralidade africana e a importância de Iyá Nassô, uma princesa africana escravizada, figura central na fundação do primeiro terreiro de candomblé do Brasil, o Ilê Axé Iyá Nassô, mais conhecido como Terreiro da Casa Branca, em Salvador. O desfile destacou a resistência das religiões de matriz africana e a luta das mulheres negras na preservação da cultura e da fé dos povos africanos no Brasil.
Com um visual imponente, a UPM trouxe alegorias ricas em simbologia, destacou momentos importantes da vida e da luta de Iyá Nassô, enfatizando sua relevância na cultura afro-brasileira, protagonismo feminino negro e ressaltando a força das mulheres negras na construção da identidade nacional. A bateria também reforçou esse protagonismo feminino, com 40 mulheres ritmistas.
O samba-enredo, carregado de emoção, foi um dos pontos altos do desfile, cantado com intensidade pelos componentes e pelo público da Sapucaí. A bateria “Guerreiros da Unidos”, sob o comando de Mestre Dinho, fez uma apresentação marcante, incorporando toques afro e explorando ritmos ligados à religiosidade do enredo.
Em seguida, foi a vez da Imperatriz Leopoldinense abrilhantar a avenida, com o samba-enredo “Ómi Tútú ao Olúfon – água fresca para o Senhor de Ifón”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira.
O desfile trouxe para a Sapucaí uma homenagem à ancestralidade africana, que conta a visita de Oxalá ao reino de Oyo, governado por Xangô. Na jornada, após descumprir os conselhos de um babalaô para desistir da viagem e de fazer oferendas a Exu, Oxalá enfrenta uma série de obstáculos, que resultam na prisão do orixá.
O samba-enredo, de melodia envolvente e letra forte, foi interpretado com emoção pelos componentes e pelo público. A bateria da escola, comandada por Mestre Lolo, trouxe ritmos que dialogaram com a musicalidade afro-brasileira, criando um desfile pulsante e marcante.
A Unidos do Viradouro, foi a terceira escola a desfilar no Sambódromo, trazendo o samba-enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos”, desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon. O enredo destacou Malunguinho entidade afro-indígena que se manifesta como Caboclo, Mestre e Exu/Trunqueiro. Grande herói do século 19, líder do Quilombo do Catucá, no Norte de Pernambuco, com um enredo afro-indígena ou negríndio.
A Viradouro apostou em um desfile de forte impacto visual, fez grande uso de efeitos holográficos para simbolizar a chave que libertava o catimbó do cativeiro, enquanto a comissão de frente surpreendeu com drones que lançavam chapéus ao ar, em meio a chamas reais e fogo cenográfico. As cores predominantes foram vermelho, preto e dourado, remetendo à força e à espiritualidade de Malunguinho.
O samba-enredo, carregado de emoção e com uma melodia marcante, foi um dos grandes destaques do desfile, sendo cantado a plenos pulmões pelos componentes e pelo público. A bateria “Furacão Vermelho e Branco”, comandada por Mestre Ciça, fez um espetáculo à parte, com 282 ritmistas, e bossas que dialogaram com os ritmos dos maracatus e das tradições afro-indígenas do Nordeste. A rainha de bateria Erika Januza brilhou com uma fantasia dourada exalando fumaça.
A Estação Primeira de Mangueira, fechou a primeira noite de desfiles do Grupo Especial na Marquês de Sapucaí. A escola fez um desfile emocionante com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, do carnavalesco Guilherme Estevão. A agremiação trouxe uma narrativa forte e poética, com uma comissão de frente que destacou três momentos: a alegria da vida na África, o sofrimento da escravidão e o renascimento no Rio de Janeiro, com os “crias” dançando passinho e pipas em drones, símbolos das comunidades cariocas e parte da herança banto da cidade.
O desfile percorreu diferentes momentos históricos da luta e da cultura negra, passando pelos tempos da escravidão, os quilombos urbanos, os movimentos culturais da Pequena África, a influência do samba e a afirmação da identidade afro-brasileira nos dias atuais. As alegorias e fantasias retrataram tanto a dor da opressão quanto a celebração da ancestralidade e da liberdade, criando um espetáculo visual impactante.
O samba-enredo, carregado de emoção e com uma letra potente, foi um dos destaques da apresentação, sendo cantado com força pelos componentes e pelo público. A bateria “Tem Que Respeitar Meu Tambor”, sob o comando de Mestre Wesley, trouxe ritmos marcantes, incorporando referências afro e dando ainda mais vida ao desfile.
O evento manteve a tradição do Carnaval carioca, misturando crítica social, homenagens e muita festa. Agora, a expectativa cresce para o segundo dia de desfiles, com as escolas Unidos da Tijuca, Beija-Flor de Nilópolis, Salgueiro, e Vila Isabel.