Foi com a frase imortalizada por Tim Maia que Gabigol lançou um canal no YouTube minutos depois de anunciar sua saída do Flamengo em entrevista após o título na Copa do Brasil, no domingo. Ele deixará o clube ao fim desta temporada após cinco anos de uma relação que teve muitos títulos e capítulos conturbados. O principal nome da segunda geração mais vitoriosa da história rubro-negra se despede com fortes criticas à diretoria.
A entrevista ainda no campo após o título da Copa do Brasil - o seu 13º com a camisa do Flamengo - deixou claras as rusgas na relação, que começou com o empréstimo junto à Inter de Milão, no início de 2019, e passou pelo “Dia do Fico”, em janeiro de 2020, quando o Rubro-Negro o contratou em definitivo.
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Se as duas negociações terminaram em entendimento, a terceira evidenciou divergências que vão culminar no fim do vínculo em dezembro deste ano.
– Nesses últimos anos, houve negociações, o presidente, a diretoria, apertou minha mão, do meu pai, da minha mãe, e depois aconteceram coisas que eu realmente não gostei. Sempre soube das coisas pelo podcast (refere-se a entrevistas de dirigentes em podcasts), nunca pessoalmente. Falei com Marcos Braz para ficar por dois, três anos, mas nunca houve uma proposta do Flamengo– afirmou o jogador no gramado da Arena MRV.
Por que o acordo verbal não virou contrato assinado?
Em 2023, a diretoria do Flamengo desejava renovar o contrato de Gabigol por cinco anos, e o jogador queria completar uma década no clube. Em outubro do ano passado, o departamento de futebol rubro-negro e o atacante encaminharam um acordo por um contrato até o fim de 2028, com expressivo aumento salarial.
O acordo verbal foi celebrado. O jogador, inclusive, recebeu cumprimentos de alguns dirigentes, que telefonaram para familiares do atleta para comemorar o novo vínculo.
Dias após a reunião, o atacante, enquanto aguardava a minuta para assinar o contrato, montou o planejamento para o anúncio da renovação. O staff de Gabigol compareceu ao Ninho do Urubu e fez imagens para a divulgação. O documento, porém, não chegou, e o atacante - e seu empresário - viveram dias de silêncio absoluto.
O presidente Rodolfo Landim foi o responsável por travar a assinatura do contrato. Internamente, usou como justificativas o declínio esportivo do jogador e o alto valor previsto no novo vínculo.
Polêmicas dão munição a Landim
Nos últimos 12 meses, polêmicas fora de campo marcaram a trajetória de Gabigol. Em dezembro do ano passado, o jogador foi denunciado por tentativa de fraude em exame antidoping. Em março, recebeu pena de dois anos de suspensão, mas posteriormente conseguiu efeito suspensivo para continuar em campo.
Além disso, o Corinthians foi um capítulo à parte. Também em dezembro de 2023, Gabigol deu entrevista ao "Podpah" na qual disse que ele "combinaria" com o clube paulista, "pela massa, pelo time, pela favela". Pouco depois, o então recém-eleito presidente do Corinthians, Augusto Melo, disse publicamente que negociava a contratação do atleta.
– Conversa adiantada, depende deles (Flamengo). É um atleta que nos interessa e tem nossas características – disse Augusto em 2 de janeiro.
Para completar, em maio vazou uma foto de Gabigol com a camisa do Corinthians em sua casa. Com as polêmicas, Rodolfo Landim teve a munição para segurar a assinatura do contrato que havia sido acertado verbalmente no ano passado.
Sem querer assinar nos termos negociados, Landim decidiu oferecer um novo contrato a Gabigol. No meio deste ano, o Flamengo propôs um contrato de um ano, com aumento salarial de mais de 50%. O atacante prontamente recusou e afirmou que tinha interesse em um contrato longo.
Outro capítulo importante foi o interesse do Palmeiras, que inicialmente articulou uma troca por Dudu. Não houve acordo. Posteriormente, o clube paulista enviou um pré-contrato, mas Gabigol optou por não assinar. Na época, o atacante não descartou a renovação com o Flamengo.
“Sempre soube de coisas por podcast”
A frase dita por Gabigol evidenciou a falta de diálogo na busca de um entendimento. Publicamente, o clube afirmou diversas vezes que a última proposta se mantinha de pé. Após a saída de Tite e as oportunidades de Gabigol com Filipe Luís, Landim chegou a dizer a pessoas próximas que torcia pela permanência do jogador.
Aos 28 anos, o atacante se sentiu desvalorizado ao receber proposta de renovação por um ano. Pessoas próximas a ele lembraram que Bruno Henrique, então com 33 anos, assinou novo contrato por três temporadas. Mesmo com a insatisfação do camisa 99, o Flamengo decidiu não oferecer um contrato mais longo.
Diretoria dividida
A renovação de Gabigol tinha entusiastas e críticos na diretoria do Flamengo. Marcos Braz, por exemplo, queria a permanência do jogador. De saída da vice-presidência de futebol, o dirigente gostaria que a assinatura do novo contrato do camisa 99 fosse seu "último ato", mas não obteve sucesso na iniciativa.
Na Arena MRV, logo depois do apito final que garantiu o título da Copa do Brasil ao Flamengo, Braz e Gabigol se abraçaram, e o dirigente disse uma frase curta (veja o vídeo no início da matéria).
– Obrigado por tudo.
Quis o destino que Gabigol conquistasse seu último título na cidade que será sua nova casa: Belo Horizonte. O Cruzeiro ofereceu um contrato de quatro anos, um dos maiores salários do país e luvas na negociação.