18 de Setembro de 2024

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SAÚDE Terça-feira, 17 de Setembro de 2024, 11:23 - A | A

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CONSCIENTIZAÇÃO

Alzheimer: Os desafios de envelhecer com saúde cerebral e a importância de garantir informação para romper estereótipos relacionados à doença

A complexidade da patologia nos dias atuais, para além do diagnóstico precoce, é percebida pela falta de suporte multidisciplinar, essencial para promover o bem-estar e a dignidade dos pacientes e suas famílias

Yasmin Yegros da Redação

"Lembre-se de mim, se eu estiver vivo em sua mente. Te levo em meu coração e te acompanharei", a letra da música do filme Viva - a vida é uma festa (2017), emocionou a todos que assistiram o longa da Disney, com o uso de poucos acordes, mas com uma intensa narrativa de perdas por trás, gerou uma fácil aproximação e identificação com os telespectadores que viram a "Abuela" na cena final, recordar-se da infância com o pai através da sonoridade familiar, cantada pelo neto, mesmo em estágio avançado da demência. 

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Fora das telas, o dia 21 de setembro é dedicado nacionalmente à conscientização da doença de Alzheimer, que segundo dados do Ministério da Saúde, aflige cerca de 1,2 milhões de pessoas no Brasil e 100 mil novos casos são diagnosticados todo ano, número com tendência a aumentar por estar diretamente ligado ao envelhecimento da população. Informar-se é o primeiro passo para garantir dignidade e suporte, tanto aos pacientes quanto às suas famílias que estarão presentes ao longo do processo. Além disso, o uso excessivo de smartphones e o excesso de informações diárias, também destacam a importância do foco e equilíbrio, especialmente para preservar uma boa memória melhorando a qualidade de vida em todas as idades, através de mentes ativas e saudáveis. 

O Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa, progressiva, dessa forma se desenvolve por 4 estágios conhecidos, Inicial: alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais; Moderado: Dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos, agitação e insônia; Grave: resistência à execução de tarefas diárias, como comer e ir ao banheiro, deficiência motora; Terminal: estágio acamado, em leito, não conversa mais, dor para deglutir e infecções recorrentes. 

Ao desmistificar a doença, que muitas vezes é confundida com qualquer tipo de perda de memória, a conscientização permite um diagnóstico precoce, apesar de ainda sem tratamento, promovendo o cuidado adequado de manter hábitos saudáveis e estimular a mente para prevenir o avanço dessa e outras demências. Segundo o neurologista Dr. Anderson Kuntz Grzesiuk, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia e da European Academy of Neurology, a enfermidade corresponde a cerca de 60% dos casos, ou seja, os demais 40% são de outras, muitas delas reversíveis. 

"A população, ao associar problemas de memória apenas com a Doença de Alzheimer, pelo medo, acaba procurando o sistema de saúde de forma mais precoce, o que tem aumentado os diagnósticos de outras patologias com sintomas de demência, muitas delas com tratamentos efetivos. Isto tem contribuído para uma melhora na qualidade de vida de nossos idosos", afirma Dr. Anderson. 

A memória é a capacidade de armazenar informações de modo que essas possam ser recuperadas quando buscamos recordá-las. Ocorre pela formação de conexões pelos neurônios ou células nervosas no cérebro. Nesse caso, há perda progressiva desses neurotransmissores em certas regiões, que controlam o armazenamento de informação, linguagem, raciocínio, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato, afetando a memória recente, até as de longo prazo como as biográficas (nome de familiares próximos, lugares), a comunicação verbal, cálculo, mudanças de comportamento e personalidade, como ansiedade, agressividade, depressão, por fim, a coordenação motora, levando a uma dependência para executar atividades cotidianas.

A tendência ao desenvolvimento ainda não é previsível, mas a melhora de hábitos contribui para atrasar o progresso e melhora a saúde cerebral da população em geral, "cientificamente, sabemos que o controle da hipertensão arterial; diabetes, evitar o tabagismo e o consumo de drogas ilícitas; tratamento da depressão; evitar o consumo de álcool; evitar o sedentarismo e praticar exercícios físicos regulares; tratamento dos distúrbios auditivos e visuais; das disfunções do sono; ronco e apnéia; estimular o crescimento educacional; o aprendizado de uma nova língua, leitura, jogos, pintura, etc; dieta saudável, rica em vegetais; convívio social e evitar o uso excessivo de smartphones, aplicativos e mídias digitais", Kuntz descreve como essenciais. 

Por volta de 10% dos pacientes próximos aos 65 anos, possuem a doença, chegando a 40% nos de 80, logo, a incidência aumenta com a idade, mas em raros casos de predisposição genética familiar, os sintomas iniciam-se comumente cedo, entre as idades de 30-40, importante destacar que a grande maioria dos casos não tem um fator genético, manifestando-se através do processo do envelhecimento. Porém, as queixas de “memória ruim” são cada vez mais frequentes e prevalentes entre os jovens, devido à distração causada pelo uso excessivo das telas, com estímulos frequentes, mesmo durante o período de sono, sendo essenciais foco e descanso adequado para qualidade cognitiva. "Independente da faixa etária, se os sintomas de 'falta de memória' estão atrapalhando o seu dia a dia, seja feita uma avaliação médica para identificar os fatores que necessitam correção, e tratamento quando indicado", recomenda. 

Trata-se de uma patologia que não afeta apenas ao indivíduo, mas envolve toda a família, causando impactos emocionais, financeiros, dificuldades no relacionamento e funcionalidade familiar. A importância também tem relação com a melhora na disponibilidade do suporte tanto para o paciente, quanto para seus familiares, para o paciente é essencial a demanda pelo cuidado fisioterápico, fonoaudiológico, terapia ocupacional, acesso a medicamentos e cuidados de enfermagem, assim como para uma melhora no apoio psicológico, social e institucional para as famílias. 

"Através do apoio de equipes multidisciplinares, o cuidado com a saúde dos pacientes afetados, assim com sua família, conseguiremos elevar o padrão deste atendimento até que novos medicamentos mais eficazes cheguem, e em um futuro próximo, possamos pensar em tratamentos precoces para os pacientes com sintomas iniciais da Doença de Alzheimer", conclui. 

A advogada Daniela Yegros, autora do livro Alzheimer, o mal que levou você de mim: Lembranças de quem amo, lançado na capital em 2018, conta a história do amor de uma filha pelo pai. Mais do que um relato sobre a trajetória do patriarca com o diagnóstico, traz a biografia de José pelo olhar das lembranças de cuidadora familiar, que divide as suas experiências pessoais como forma de cura, mas, também, em um ato de empatia por aqueles que se identificarem com a narrativa, escrita com lágrimas nos olhos de quem viveu todos os dissabores de perder aos poucos quem tanto amava. 

"Escrevi o livro para deixar imortalizada a história do meu pai, externar minha dor e meu amor, mas também com o objetivo altruísta de ajudar a todas as pessoas que passam ou que passarão por esta doença em seu seio familiar, para quando eles perceberem que um ente querido está com esquecimentos significativos, procurem ajuda, porque quanto mais cedo for diagnosticado, melhor será a qualidade de vida da pessoa afetada", conta Daniela. 

O homem admirado pela inteligência e bondade por aqueles que o conheceram, sempre se preocupou com sua saúde física e mental, por isso, praticava atividades físicas regulares e era apreciador de boas palavras-cruzadas, mas ambas foram abaladas após um golpe financeiro sofrido e a perda precoce do filho, o que foram possíveis gatilhos para o desenvolvimento da doença, que se manifestava há algum tempo. 

Em razão do autocuidado, ele mesmo sentiu que estava ficando confuso e esquecido, dessa forma, procurou um neurologista, algo que só teve conhecimento dos parentes quando o profissional da saúde pediu para que fosse levado um acompanhante na próxima consulta, "eu já tinha quase certeza, mas quando o médico confirmou, foi devastador, porque sabia que o prognóstico seria triste, mas teríamos que enfrentar, para toda a família foi um sentimento de tristeza profunda, de que nossas vidas nunca mais seriam as mesmas", lembra Daniela. 

Ela adverte sobre a modernidade corrida em que vivemos no automático, conectados, deixando de cuidar da mente e físico, importantes para termos boas reservas na velhice. Além disso, seu livro poderá ajudar na compreensão e acolhimento do sentimento familiar por meio da descrição dos erros e acertos, a forma como foi o cuidado e as fases do Alzheimer, "ajudará o familiar cuidador a não se surpreender com o triste avanço da doença".

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