21 de Novembro de 2024

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VARIEDADES Quinta-feira, 14 de Novembro de 2024, 15:53 - A | A

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DITADURA MILITAR

Selton Mello sobre ‘Ainda Estou Aqui’: ‘O Brasil tem a memória muito curta’

Em campanha para Oscar 2025, ator revelou em livro comovente experiências com grandes artistas, incluindo Fernanda Torres e Matheus Nachtergaele

Redação

Estrela de “Ainda Estou Aqui”, filme pelo qual foi ovacionado no Festival de Veneza, e de “O Auto da Compadecida 2”, um dos mais aguardados do ano pelo público brasileiro, Selton Mello revela os bastidores dessas e de outras produções de sucesso na autobiografia “Eu Me Lembro”.

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O ator, que vive Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar, comenta no livro sobre a necessidade de lembrar desse período da história e faz um paralelo com o diagnóstico de Alzheimer da mãe, Selva, que faleceu neste ano.

“O Brasil tem a memória muito curta. (…) Então, o leitor que está acompanhando este livro até agora, pode imaginar o que significa para mim ter feito esse filme. Um filme que fala sobre memória, que fala sobre a falta de memória. A falta de memória de uma pessoa, a falta de memória de um país. Carregando comigo, delicadamente, a falta de memória da minha mãe. Então o que a gente fez é muito precioso”, revelou.

A obra celebra quatro décadas de carreira e traduz memórias da família, dos amigos e a profundidade da relação do ator e diretor com a arte. A trajetória é narrada em primeira pessoa, em resposta a uma série de perguntas feitas por um time de 40 estrelas da TV, teatro, cinema e literatura.

Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Fernanda Torres, o diretor Guel Arraes, Lázaro Ramos, Marjorie Estiano, Jeferson Tenório e Fábio Assunção são alguns dos nomes que ajudam a revelar um Selton de coração aberto: a carreira consolidada, suas dores, alegrias e uma história repleta de encontros de alma.

Publicação da Jambô Editora, o livro conta com três cadernos de fotografias, que retratam momentos distintos da vida do ator e somam mais de 70 fotos – um bônus à experiência de leitura. Ao longo dos capítulos, Selton se revela de forma tocante e poética, ri de si mesmo e da vida e entrega bastidores das produções de sucesso que deixaram grandes marcas, especialmente para o cinema brasileiro.

“E Matheus, cara, foi um encontro sobrenatural. Parecia que a gente se conhecia de outras vidas. Como somos complementares, funcionamos muito bem como uma dupla. O filme é todo sobre uma dupla. Já imaginou se não funcionasse? Não teve nenhuma leitura preliminar. Não teve testes para ver se a dupla era aquela! Não teve teste! Mágica pura”. (“Eu Me Lembro”, p. 155)

As perguntas dos convidados abrem caminho para a intimidade que ele não costuma compartilhar publicamente. Exemplo disso são as passagens sobre a relação do ator com a mãe, Selva, acometida pelo Alzheimer e que faleceu em 2024, e a comunicação mais espiritual mantida pelos dois desde o agravamento da doença. Esse vínculo funciona como a premissa do livro, pois lembrar, hoje, é essencial para manter as memórias da infância no interior de Minas Gerais, ou nos corredores da TV dos anos 1980. 

Com um texto sensível, Selton dá voz aos desafios encarados ainda no começo da carreira, quando enfrentou o ostracismo após um sucesso meteórico e duvidou do próprio talento. Fala, também, sobre como cada um dos entrevistadores para o livro marcou sua trajetória. A biografia diverte, ensina e comove. Um mergulho profundo na alma de um dos maiores atores brasileiros de todos os tempos.

Para além de declarar seu amor à vida e à arte, ele se inspira em um grande sucesso ao dar o tom à narrativa. Em Sessão de Terapia, série que dirige e atua e com a qual retorna em 2025 para uma nova temporada, dúvidas e angústias são compartilhadas, criando a identificação do espectador com a busca por respostas.

No livro, o autor analisa, com humor refinado e muita ternura, as etapas da carreira e os percalços de forma lúcida e terapêutica, abordando questões delicadas, como transtorno de imagem e depressão. Ele deixa o leitor à vontade para buscar nas entrelinhas um pouco mais sobre sua essência.

Eu Me Lembro é um livro sensível, engraçado, tocante e muito humano sobre a trajetória do criador de personagens inesquecíveis como Leléu, de Lisbela e o Prisioneiro, João Estrela, de Meu nome não é Johnny, e Benjamin, de O Palhaço, entre tantos outros seres encantadores que foram tocados por seu talento.

Com este livro-memória, Selton Mello compartilha vivências, sonhos e sentimentos, imortalizando um legado impressionante na televisão, no cinema, no teatro e na vida.

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