O apoio familiar desempenha um papel crucial no desenvolvimento e bem-estar dos filhos, oferecendo segurança, amor e suporte emocional. No entanto, para muitos jovens LGBTQIAPN+, o ambiente familiar pode se tornar um local de rejeição, violência verbal ou física e até mesmo abandono. Quando os pais e familiares não aceitam a identidade de gênero ou orientação sexual de seus filhos, o impacto psicológico e social é devastador. Muitas vezes, esses jovens acabam sendo forçados a viver nas ruas, enfrentando condições extremas e, em alguns casos, sendo levados ao mundo da prostituição, uma realidade que infelizmente ainda é ignorada por grande parte da sociedade.
Infelizmente, o abandono de jovens LGBTQIAPN+ é um problema significativo, e a falta de apoio da família é uma das principais razões pelas quais muitos deles acabam em situação de vulnerabilidade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que cerca de 2,9 milhões de brasileiros são LGBTs, mas a quantidade de jovens que enfrentam a rejeição familiar é ainda mais alarmante.
Em 2017, a pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Grupo de Pesquisa em Diversidade Sexual revelou que aproximadamente 40% dos jovens LGBTQIAPN+ já haviam sido expulsos de casa ou sofreram alguma forma de rejeição por parte de suas famílias devido à sua identidade de gênero ou orientação sexual. Esse número é assustador, pois muitas dessas crianças e adolescentes são despojados de sua rede de apoio mais próxima, ficando vulneráveis a uma série de perigos sociais.
A rejeição familiar não é apenas uma questão de falta de aceitação. Ela pode gerar traumas profundos e duradouros. Em muitos casos, esses jovens enfrentam depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e suicídio. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) apontou que, entre 2017 e 2020, cerca de 70% dos suicídios entre pessoas trans ocorreram devido à rejeição familiar e à falta de apoio.
Quando a rejeição familiar se torna insuportável, muitos jovens LGBTQIAPN+ acabam indo para as ruas. Sem teto e sem recursos, esses adolescentes e jovens adultos se veem obrigados a buscar formas de sobreviver. Muitos acabam sendo explorados, especialmente as pessoas trans, travestis e pessoas não binárias, que são vulneráveis a redes de prostituição. De acordo com a ANTRA, a prostituição é uma das alternativas de sobrevivência mais comuns entre pessoas trans, sendo uma das poucas formas de garantir renda, visto que essas pessoas enfrentam barreiras significativas no mercado de trabalho devido ao preconceito estrutural.
Uma pesquisa de 2020 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que mais de 70% das travestis e transexuais que vivem nas ruas ou em situações de vulnerabilidade já se envolveram em alguma forma de trabalho sexual, e grande parte delas relatou que o principal motivo foi a falta de alternativas financeiras e a rejeição familiar. Esse número é ainda mais alarmante quando se leva em consideração que, além de estarem expostas a situações de violência, essas pessoas enfrentam uma margem estreita de oportunidades de emprego, uma vez que o preconceito no mercado de trabalho é imenso.
A rejeição familiar afeta diretamente a saúde mental desses jovens. A falta de apoio, o abandono e o estigma que enfrentam criam uma sensação de exclusão e desesperança. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem alertado sobre os impactos psicológicos da rejeição familiar em crianças e adolescentes LGBTQIAPN+, que podem desenvolver graves distúrbios emocionais. As taxas de suicídio e de transtornos psicológicos entre jovens LGBTQIAPN+ que enfrentam rejeição familiar são significativamente mais altas do que entre aqueles que têm o apoio de suas famílias.
De acordo com o Relatório Anual de Direitos Humanos da Human Rights Campaign (HRC), 40% dos jovens sem-teto nos Estados Unidos são LGBTQIAPN+, com muitos deles tendo fugido de casa por causa da rejeição familiar. Embora esse dado seja referente aos Estados Unidos, a realidade no Brasil segue uma tendência semelhante. Em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, organizações não governamentais (ONGs) como a Casa 1 e a Grupo Gay da Bahia (GGB) relatam um aumento significativo no número de jovens LGBTQIAPN+ em situação de rua, cujas histórias frequentemente envolvem a rejeição de suas famílias.
É urgente a implementação de políticas públicas que proporcionem suporte para esses jovens, tanto no aspecto psicológico quanto no social e econômico. As autoridades precisam entender que a falta de apoio familiar é um dos maiores problemas enfrentados por essas pessoas, e os serviços de acolhimento e proteção à infância e adolescência precisam ser ampliados e melhor estruturados para atender essa demanda crescente.
Além disso, as ONGs que trabalham com essa população vulnerável, como a Casa 1 em São Paulo e a C.A.S.A. em Curitiba, desempenham um papel crucial na oferta de abrigo, alimentação e apoio psicológico, mas elas precisam de mais apoio e financiamento para garantir que possam continuar oferecendo assistência a essas pessoas.
Por fim, é fundamental que o governo e a sociedade como um todo promovam um ambiente de aceitação e respeito às diversidades. Isso inclui não apenas a mudança de mentalidade nas famílias, mas também em instituições educacionais, no mercado de trabalho e nos espaços públicos.
Lucas Leite, jornalista, assessor de imprensa, social mídia e chefe de redação do COPopular