18 de Setembro de 2024

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POLÍTICA Segunda-feira, 12 de Agosto de 2024, 11:47 - A | A

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AGOSTO DE 1961

A renúncia de Jânio Quadros e sua sucessão foram temas de debates no parlamento cuiabano

Redação

Na Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Cuiabá realizada na noite do dia 25 de agosto de 1961, a vereadora Maria Nazareth (PSD) pronunciou dizendo que aquela era um dia de grande reflexão, e que em virtude da atitude do Presidente da República poderia acontecer coisas graves à nação brasileira. A vereadora referiu-se à renúncia de Jânio Quadros ao cargo de Presidente do Brasil. Inicialmente, é necessário conhecer um pouco sobre Jânio Quadros, por isso uma breve passagem pela sua biografia, em especial no campo político, e em seguida as consequências do seu ato e a repercussão no parlamento cuiabano.

Jânio da Silva Quadros nasceu em Campo Grande no ano de 1917, ainda como cidade do Estado de Mato Grosso. Foi criado em Curitiba (PR) e em sua juventude mudou-se para a cidade de São Paulo (SP), graduando-se em Direito na tradicional Faculdade do Largo de São Francisco. Jânio ingressou na política como vereador, nas eleições de 1947, quando ocorreu a reabertura das câmaras municipais. No ano de 1950 foi eleito Deputado Estadual, em seguida Prefeito de São Paulo, dois anos depois de Governador do Estado, e após deixar o governo, elegeu-se Deputado Federal, desta vez pelo Estado do Paraná. Aos 44 anos de idade, com apenas 13 anos de vida política, elegeu-se Presidente da República nas eleições de 3 de outubro de 1960. Foi, pautando em discursos moralistas, de combate à corrupção e aos políticos tradicionais, contra os benefícios das elites e em favor do atendimento aos pobres, e com a sua figura carismática e popular, que Jânio Quadros conquistou 48% dos votos pelo PTN, com o apoio da UDN. Nas eleições de 1960 o eleitor votou separadamente para os cargos de Presidente e de Vice-Presidente, sendo que para este foi eleito João Goulart, do partido de oposição, o PTB, um herdeiro político de Getúlio Vargas.

A respeito do seu mandato, o historiador Boris Fausto afirma que ele iniciou sua gestão cuidando de assuntos desproporcionais ao seu cargo, como a exclusão do lançamento-perfume, das brigas de galo e do uso do biquíni. Nas medidas mais séries, combinamos iniciativas simpáticas à esquerda e em outro momento aos conservadores, o que acabou desagradando a ambos. Na política externa, em um mundo bipolarizado entre os Estados Unidos (capitalista) e a União Soviética (comunista), dizia-se independente, acenando afirmativamente para ambos, causando assim desconforto entre as lideranças nacionais e internacionais. Na economia ele herdou um descontrole financeiro provocado pelos vultuosos empréstimos contraídos pelo governo anterior. A inflação bateu recordes, e mesmo contendo gastos públicos, Jânio não conseguiu detê-la.

No campo político o Presidente perdeu o apoio de grandes aliados. Já sem base no Congresso Nacional, dominado pelo PDS e PTB, seu governo desagradava até a UDN, antiga aliada, por não tratar conjuntamente os seus projetos. Além disso, foi rechaçado por Carlos Lacerda, pessoa com grande influência política. De apoiador, Lacerda tornou-se um ferrenho opositor ao governo de Jânio. Na noite do dia 24 de agosto, Lacerda insinuou pela rádio que o Presidente tentava um golpe. No dia seguinte, Jânio Quadros apresentou ao Congresso seu pedido de renúncia à carga de Presidente do Brasil. Cogita-se que houve uma tentativa de atrair o apoio da população, dando-lhe mais poder, podendo assim sobrepujar o Congresso. Sem apoio especial, Jânio atingiu a Inglaterra com sua família, deixando uma crise sucessória. Iniciava-se no Brasil uma grande disputa pelo comando político e administrativo, inclusive com a interferência de militares, um período que estremeceu a nação e repercutiu inclusive entre os vereadores de Cuiabá.

?Na Sessão Ordinária do dia 28 de agosto, o vereador Benedito Metelo (UDN) apresentou um Requerimento a fim de que os vereadores, diante da situação política que abalava o país, dissessem à população da cidade o posicionamento da Câmara, enviando uma mensagem que seria lida nas rádios e repassada à imprensa escrita. Vale destacar que os cuiabanos tinham aderido fortemente à campanha do ex-presidente, na medida em 8.573 dos 16.090 habitantes aptos a votar o escolheram, levando-nos a acreditar que nutriam apreço pelas propostas de Jânio Quadros. ?

No início dos debates a respeito do Requerimento, o vereador Paulo Lobo (UDN) defendeu a necessidade de uma sucessão baseada na lei e na vontade popular, sem a intervenção, segundo ele, “de grupos, que serão os perturbadores da ordem”. O vereador Manuel Miraglia (PSD) declarou que era um favor da legalidade e da Constituição, pois se não passaria o país por uma ditadura. Por fim, devido à ausência de alguns vereadores e por tratar-se de um tema de bastante complexidade e seriedade, o vereador Otávio Santanna (UDN) sugeriu que fosse convocada uma Sessão Especial com a presença de todos os vereadores. A sugestão foi acatada por demais e o presidente Álvaro Benedito Duarte (UDN) convocou uma sessão para o dia seguinte.

No início da Sessão Especial do dia 29 de agosto, com a presença de 7 dos 9 vereadores, o Presidente destacou que aquela reunião serviria exclusivamente para tratar do Requerimento do vereador Benedito Metelo (UDN). O vereador Otávio Santanna (UDN) afirmou que aquele Requerimento apresentado na noite anterior provocou uma pausa para sua reflexão sobre o momento pelo qual passar o país. Defendeu que o Requerimento deveria ser aprovado, para que “não haja lufa-lufa (inscrição), pois o mesmo é de necessidade, já que defende a ordem e a legalidade”.

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?A vereadora Maria Nazareth (PSD) disse na sessão que “na hora em que a nossa atravessa pátria momentos difíceis, devemos levantar as nossas vozes para que a democracia e a Constituição sejam respeitadas, e para que seja empossado o Vice-Presidente”. Afirmou ainda que “a democracia dá direito ao tribuno para defender os seus anseios”. Realçou que seja lá o vice-presidente de qual partido para, “deverá ser empossado, pois receberá o mandato do povo e deve ser respeitado”. Da mesma forma, o vereador Afrânio Calhau (PSD) disse que levantava a sua voz pela legalidade, vendo que “o Brasil periclitava para uma ditadura, e que os vereadores deveriam se manifestar”. Os vereadores, por fim, aprovaram o Requerimento e apoiaram uma mensagem que seria transmitida ao povo cuiabano através da imprensa escrita e falada. Infelizmente não há na sessão da redação da mensagem e não a encontramos em nenhum periódico. ?

Analisando esses acontecimentos, em especial a manifestação dos edis cuiabanos, podemos entender que por mais bem intencionados que alguns grupos possam se sentir, não há outra alternativa a não ser o respeito ao desejo do povo externo através do voto em eleições livres. João Goulart tomou posse em 7 de setembro daquele ano, com poderes limitados em virtude da adoção do sistema parlamentarista. Já em janeiro de 1963, mais uma vez o povo se manifestou através do voto, a favor do presidencialismo. Cerca de 9,5 milhões, dentre um total de 12,3 milhões de votantes, desamarram os punhos de João Goulart através de um plebiscito, e ele pôde ser, enfim, o Presidente do Brasil.

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