A sexualidade feminina, por gerações, foi envolta em tabus e expectativas impostas. Fomos ensinadas a esconder nosso prazer, como se ele fosse um detalhe menor na vida de uma mulher. Mas a verdade é que o prazer, incluindo o sexual, é sim uma parte essencial de quem somos. Estamos despertando para essa realidade, nos libertando das amarras e entendo que o redescobrimento da libido também é uma importante maneira de autocuidado.
No entanto, essa não é uma jornada fácil, ainda mais quando ela é recheada de preconceitos e sobrecargas diárias que geram fardos estressantes para lidar. O primeiro ponto de reflexão está no tamanho do impacto que isso ocasiona em nós. Vivemos dias que nos cobram muito: trabalhar, cuidar da casa, atender expectativas sociais e, de quebra, tentar "dar conta" de tudo com um sorriso no rosto. Não é surpresa que o cansaço e a desconexão com o próprio corpo se tornem inevitáveis.
O estresse crônico vai drenando nossa energia e, com ela, nossa libido. Recuperar esse ânimo começa ao admitir o óbvio: somos humanas. Parar, respirar e reconhecer os próprios limites é o primeiro ato de autocuidado. Mas como redescobrir a libido em meio a tantos padrões sociais que nos afastam de nossa essência? Desde muito cedo, as mulheres são ensinadas a atender expectativas externas, a pensar mais no outro do que em si mesma.
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A escritora e jornalista Peggy Orenstein, autora do livro Garotas & Sexo, conta em uma de suas palestras publicadas no TED que mulheres são mais propensas que homens a usar o prazer do seu parceiro como medida para sua satisfação. Segundo Orenstein, que por duas décadas pesquisa sobre o assunto, é comum mulheres dizerem "se ele está satisfeito, eu estou satisfeita", enquanto o homem utiliza o próprio orgasmo como parâmetro para definir uma boa experiência sexual.
Quebrar essas barreiras, no entanto, é possível. Começa com um movimento simples, que é o de abandonar a culpa, abraçar seus desejos e se permitir viver a sexualidade plenamente. Isso acontece quando entendemos que precisamos nos reconectar com quem somos, seja ouvindo a música preferida, com uma caminhada, experimentando algo novo. E isso não é egoísmo, são pequenas ações que ajudam a trazer a vitalidade de volta.
Procurar o apoio profissional, como ginecologistas, também é um passo importante. Esses especialistas ajudam a romper os bloqueios e a entender que a libido não é apenas sobre sexo, mas sobre vida. Ela é um reflexo de como estamos nos sentindo emocional e fisicamente. Quando uma mulher está conectada consigo mesma, cuidando de sua saúde e respeitando seus desejos, ela naturalmente sente mais energia, vitalidade e disposição para viver plenamente.
Redescobrir sua libido é, no fundo, redescobrir você mesma. É dar prioridade à sua saúde, às suas vontades e à sua felicidade. Não é sobre seguir um manual, mas sobre encontrar o que faz sentido para você. Que essa jornada seja feita com leveza, com amor próprio e, acima de tudo, com a certeza de que você merece sentir prazer e viver plenamente. Afinal, cuidar de si mesma é a melhor forma de cuidar do mundo ao seu redor.
Drª Bruna Ghetti é médica ginecologista, referência em saúde íntima e longevidade da mulher