Recentemente, a assessoria de imprensa do ex-candidato à presidência do Brasil e à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, protagonizou um episódio que levanta sérios questionamentos sobre a ética na comunicação. No dia da posse do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um release foi divulgado pela equipe de Marçal, levando diversos veículos de imprensa a acreditarem que ele estava presente no evento. O vídeo utilizado para reforçar essa narrativa foi publicado nas redes sociais do político e impulsionado pela sua própria assessoria, sem qualquer comprovação de sua veracidade.
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A falha ética neste caso é evidente. A assessoria de imprensa tem como função principal fornecer à imprensa informações relevantes, verídicas e de interesse público. Quando um release é enviado para veículos de grande alcance, a expectativa é que ele contenha dados corretos, pois os jornalistas confiam na seriedade da fonte. Para um profissional da imprensa, ter seu material publicado em grandes veículos é um prestígio, e essa credibilidade jamais deve ser usada de maneira leviana ou para propagar informações enganosas. Ao fazer isso, a assessoria de Marçal não apenas comprometeu sua própria reputação, mas também colocou em risco a credibilidade dos jornalistas que replicaram a informação.
É importante ressaltar que esta análise não se trata do vídeo em si ou da estratégia de comunicação de Pablo Marçal, mas sim da falta de ética da assessoria de imprensa. Se o assessor for um jornalista, o problema se agrava ainda mais, pois o compromisso primordial do jornalismo é com a verdade e a transparência.
Outro ponto preocupante é que, quando questionada por alguns veículos sobre a veracidade do fato, a assessoria não desmentiu prontamente a informação. Esse silêncio intencional reforça a falta de compromisso com a ética e a transparência, essenciais para o bom exercício da comunicação profissional.
Esse episódio levanta um questionamento fundamental: o assessor de imprensa deve simplesmente acatar e divulgar tudo o que o cliente deseja, ou tem o dever de apurar antes se a informação é verídica? A resposta é clara. O assessor de imprensa deve agir com responsabilidade e senso crítico, garantindo que as informações repassadas sejam fidedignas e de interesse público. Caso contrário, o profissional não apenas prejudica sua própria carreira, mas também mina a confiança do jornalismo e do público na informação.
Além disso, é essencial que os jornalistas dos veículos de comunicação conheçam o profissional de quem recebem os releases. Verificar o histórico e a credibilidade de assessorias pode evitar armadilhas que, além de prejudicarem a reputação do jornalista, podem manchar a credibilidade do veículo de comunicação. O jornalismo sério precisa se proteger dessas práticas, pois sua maior moeda sempre será a verdade.
A assessoria de imprensa não deve ser um simples canal de reprodução dos desejos do cliente, mas sim um filtro de credibilidade e responsabilidade. Informar bem é um dever; manipular a verdade, é um erro imperdoável.
Ana Barros é jornalista, com especialização em mídias digitais e assessoria de imprensa