Nascida em Concórdia, no oeste de Santa Catarina, Margareth Buzetti (PSD-MT), 64 anos, é uma empresária e política brasileira. Mãe de duas filhas e avó de dois netos, Margareth atualmente é senadora pelo estado de Mato Grosso, preside a Associação Brasileira do Segmento da Reforma de Pneus (ABR) e é vice-presidente da Associação das Empresas do Distrito Industrial de Cuiabá (Aedic), entidade que presidiu por dois mandatos.
Representante de Mato Grosso no Senado, Margareth se destaca por seus posicionamentos equilibrados em debates sensíveis, abordando desde pautas econômicas até pautas sociais urgentes. Em recente entrevista a senadora enfatiza a importância de criar novas lideranças para diminuir a polarização política que domina o país.
Redação Centro Oeste Popular — Recentemente houve o anúncio da isenção do pagamento de impostos para pessoas com renda inferior a 5 mil reais. Qual sua opinião referente a este novo pacote?
Margareth Buzetti — Ouvi este projeto ontem, e ele ainda não chegou ao Senado por escrito para nós. É importante ver o que está escrito, porque nas entrelinhas ficam muitos ditos. Preciso ver o que o governo está disposto a sacrificar para não penalizar a população, porque sempre recai sobre a população qualquer decisão mal feita. Mas tenho algumas dúvidas por isso, preciso ler o documento por escrito. Está certo isentar uma faixa maior do imposto de renda, mas quem deveria arcar com essa diferença é o próprio governo, não a população pagar por isso, porque, dentro da reforma tributária, já tivemos um aumento violento de tributos.
Centro Oeste Popular — O ministro da Fazenda disse que, em dois anos, a economia chegaria a 70 bilhões. A senhora acha esse valor justo? Acha também que essa reforma poderia ser ainda mais dura ou ele fez o que pôde?
Margareth Buzetti — Tenho certeza de que ele fez o que era possível. Tem que existir um equilíbrio entre o lado fiscal e o lado político. Uso as emendas como exemplo: hoje os parlamentares legislam a troco de emenda, e acho um absurdo, mas é assim que o sistema funciona. O Brasil é um país imenso e não tem motivo para existir esse déficit na economia. Esse é um resultado de um descontrole das contas públicas, que realmente precisa de medidas duras, porque não existe solução doce. Isso não é um problema deste governo; é uma questão que vem piorando a cada governo e fez chegar onde chegamos.
Centro Oeste Popular — Existe ainda muita polarização na política, e a senhora falou recentemente sobre a necessidade de novas lideranças no cenário. Como a senhora encara esta polarização?
Margareth Buzetti — A polarização está aí, e todos sabem que ela está cada vez pior. Tivemos 8 de janeiro, anistia e agora o indiciamento do Bolsonaro, e a coisa só vai piorando. Fico muito preocupada com os rumos que o país está tomando. Tínhamos que sentar e pensar em quão benéfico seria para o país formar novas lideranças. Mas o que existe é uma briga de ego, e nenhum dos lados está disposto a deixar que isso aconteça. PT sem Lula não existe, e Bolsonaro sem a polarização também não. Surgiu a possibilidade de o Tarcísio disputar as eleições, mas Bolsonaro bateu no peito e disse que quem concorre é ele, sendo que está inelegível. É triste ver que não estão dispostos a cumprir o papel de um bom gestor, que é, também, criar um novo líder.
Centro Oeste Popular — O Bolsonaro e mais 36 pessoas foram indiciadas por uma trama golpista contra o Estado de Direito. Queria saber como a senhora está acompanhando este processo.
Margareth Buzetti — É uma situação muito delicada. São tantos discursos tentando terceirizar uma culpa. Tenho pena de quem ficou na frente dos quartéis; ali tinham pessoas que estavam confiando que deveria acontecer algo diferente. Óbvio que tinham pessoas que estavam incitando algo, mas também tinham pessoas de idade ali. Se Bolsonaro tivesse aceitado a derrota e se posicionado perante estas pessoas, nada disso teria acontecido. Sobre o golpe, não sei como foi construído, se foram os militares ou se ele estava realmente junto. Agora, é extremamente grave que pessoas tenham sofrido uma lavagem cerebral por isso, permaneceram lá.
Centro Oeste Popular — Temos aí a PEC que, caso seja aprovada, proíbe o aborto que até então é permitido por lei. Há quem diga que este é um atentado contra os direitos femininos adquiridos até hoje. Qual sua posição sobre essa PEC? Se chegar até a Câmara, qual seria seu voto?
Margareth Buzetti — É uma discussão bem delicada para nós, mulheres. Eu jamais faria um aborto, mas acho um retrocesso e não entendo por que dessa discussão. Não admito nenhum homem pautando este assunto, seja ele padre ou juiz. A única pessoa que pode decidir sobre isso é a mulher que está na situação e, se ela quiser fazer o aborto, ela vai fazer, ilegalmente, de qualquer forma. É delicado porque, se eu falo que sou a favor do aborto, bolsonaristas dirão que sou petista. Apenas me coloco no lugar do outro. Queria perguntar aos homens: se eles pudessem gestar uma criança e fossem estuprados, votariam do mesmo jeito? Conheci uma menina de 10 anos que ficou grávida do avô e não tinha condições de levar a gravidez para frente. Ouvi a Coronel Fernanda falando sobre a PEC e queria que ela se colocasse no lugar do outro. Se fosse uma filha dela nessa posição, será que ela pensaria da mesma forma? Essa discussão é uma agressão, parece uma cortina de fumaça para o que realmente interessa. Centro Oeste
Popular — Hoje temos muita preocupação com o feminicídio, mas a agressão contra a mulher é um caminho de várias situações anteriores que resultam neste ato. O que a senhora acha que poderia ser feito para acabar com o problema na raiz?
Margareth Buzetti — Para isso temos a educação. Precisamos mostrar para as crianças que meninos e meninas são iguais, isso desde atos como lavar a louça. Criar esta igualdade é necessário. O feminicídio começa ali no ciúme, e depois passa para as ofensas verbais e, de repente, já está nas agressões físicas. Mexemos no pacote do feminicídio e agora existe a possibilidade de um cara que comete lesões físicas ir para a cadeia. Estar preso é a punição máxima, mas precisamos educar homens para que não seja necessário. Aqui em Mato Grosso, temos um índice muito alto de agressão contra a mulher; só este ano foram mais de 40 feminicídios. Algo precisa ser feito.