A entrevista com Pedro Taques, ex-governador de Mato Grosso e figura proeminente na política estadual, revela um diagnóstico crítico sobre o atual cenário de segurança pública e gestão governamental no estado. Em um bate-papo direto, Taques não poupou palavras ao criticar a administração do governador Mauro Mendes, especialmente no que tange ao combate ao crime organizado e à gestão de recursos públicos. A conversa também abordou a sua relação com a política, a atuação em sua carreira jurídica e acadêmica, além de temas como o abandono de projetos importantes no Vale do Rio Cuiabá e as falhas em políticas públicas essenciais. Neste confronto de ideias, Taques se apresenta como um observador atento da política mato-grossense, sempre em defesa de uma gestão mais eficaz e comprometida com a segurança e o bem-estar da população.
Centro Oeste Popular: Recentemente, o senhor divulgou nas suas redes sociais, uma foto com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em Brasília. O senhor tem sido bem ativo nas redes sociais e na imprensa. Esse movimento é um sinal de que o senhor está planejando voltar à política? O encontro com o vice-presidente teve algum alinhamento sobre uma possível candidatura no próximo ano?
Pedro Taques: Olha, tenho amigos! Fui a Brasília tratar de um processo, sou advogado. Há seis anos, tenho um escritório com mais três sócios, a FG e a Itaques. Sou advogado e também professor na FAIP. Fui a Brasília para resolver questões relacionadas à educação. O vice-presidente Alckmin, que é meu amigo, me chamou para tomar um café, e fui lá. Aproveitei para conversar com o Carlinhos Siqueira, que é meu amigo há mais de 20 anos. As pessoas às vezes pensam que eu só tenho adversários, mas tenho amigos em todo o Brasil.
Eu nunca saí das redes sociais. Tenho Instagram, Twitter, desde quando era procurador da República, há muito tempo. Sobre as entrevistas, antes parecia que eu estava proibido de falar, ninguém me chamava. Agora, começaram a me chamar. Já tentaram me matar fisicamente na época do Arcanjo, e depois, politicamente. Mas fiquem tranquilos, estou bem vivo e acompanhando tudo o que acontece em Mato Grosso.
Centro Oeste Popular: O senhor recebeu algum convite do vice-presidente nesse encontro?
Pedro Taques: Não, não recebi convite. O Alckmin queria ouvir minha opinião sobre um tema, perguntou sobre o partido em que eu estava, e a conversa também envolveu política, mas ele não me fez nenhum convite, em absoluto. O presidente do PSB aqui é o Max Russi, que respeito muito. Aliás, Max é o político que mais cresceu em Mato Grosso nos últimos tempos. Ele tem um grande apoio, fez 15 prefeitos e 200 vereadores, e hoje tem força para disputar o governo, o Senado, a vice, o que ele desejar. Ele é um político que tem uma ascensão muito forte.
Centro Oeste Popular: A sua atuação sempre foi muito marcada pelo combate ao crime organizado. Recentemente, o senhor fez críticas ao governador Mauro Mendes sobre esse tema. Quais políticas o senhor proporia para o combate ao crime organizado em Mato Grosso?
Pedro Taques: Engenheiro de obra pronta é a pior coisa que existe, né? Vou me basear no que disse o promotor Doutor Domingo Sávio: o Mauro Mendes é um ignorante em segurança pública, não entende nada do assunto. E vou te dar um número: em 2016, Mato Grosso tinha 8.400 policiais militares. Hoje, em 2025, temos apenas 6.300 policiais. Não se combate crime organizado sem a polícia militar, sem a polícia ostensiva nas ruas. Precisamos de mais policiais nas ruas.
Como é possível um Estado com tanto dinheiro guardado não contratar mais policiais? Segurança pública não pode ser apenas propaganda. Acredito que temos homens e mulheres muito bem preparados nas polícias militares, civis, Politec e polícia penal. Aliás, devo minha vida à polícia militar, já que passei 10 anos com escolta. Não comecei a combater o crime organizado ontem. Quando o crime organizado tomou conta aqui, eu estava lá, com o Ministério Público. Como governador, assumi o Estado quando uma organização criminosa estava dominando.
Em relação ao atual governo, a segurança pública de Mato Grosso está falida. O governo tem um discurso de fachada. Existem bairros e cidades que estão praticamente controladas pelo crime organizado, como em Sorriso e Cuiabá. A culpa não é só das facções, é da falta de uma política pública eficiente.
Centro Oeste Popular: O senhor afirma que é um governo feito para pessoas ricas, mas quando o dinheiro não resolve? Cidades ricas como Sorriso e Lucas do Rio Verde estão enfrentando grandes problemas de segurança. O que o governo pode fazer quando até o dinheiro parece não ser suficiente?
Pedro Taques: Lucas do Rio Verde e Sorriso são cidades ricas, mas, mesmo assim, Sorriso está entre as cidades brasileiras com maior número de estupros, de acordo com dados do Ministério da Justiça. O governo de Mauro Mendes perdeu o controle sobre a segurança pública. Ele parece ter terceirizado a culpa, dizendo que tudo é culpa de Brasília ou das leis. Mas ele já está no governo há quase sete anos, não pode continuar colocando a culpa nos outros.
Em meu governo, conseguimos reduzir os homicídios de 33 para 23 por 100 mil habitantes. Hoje, Mato Grosso está com 31 homicídios por 100 mil, um número maior que o do Rio de Janeiro. Isso é um sinal claro de falência da segurança pública. E isso tem um custo: vidas estão sendo perdidas. A culpa não é só dos criminosos, é também do governo do Estado, que não investe em políticas públicas efetivas.
Centro Oeste Popular: O senhor falou que o atual governo abandonou o Vale do Rio Cuiabá. Pode detalhar um pouco mais sobre isso?
Pedro Taques: Sim, é um governo de fachada. Ele abandonou o Vale do Rio Cuiabá e não investe nas necessidades reais da população. Por exemplo, o projeto de arborização urbana, proposto por Botelho foi vetado. A SEMA é um caos, com processos empacados e problemas ambientais graves. Mato Grosso não aderiu ao plano nacional de mudanças climáticas, o que é um erro sério.
Mesmo com recursos federais, o governo atual não investe adequadamente. O Rodoanel e o Hospital Júlio Müller, por exemplo, são feitos com dinheiro federal, não do governo estadual. E isso é só propaganda, não é solução real para os problemas que o estado enfrenta.
Centro Oeste Popular: O senhor acredita que o governo atual perdeu o foco nas prioridades do Estado?
Pedro Taques: Sem dúvida. O governo de Mauro Mendes tem se mostrado mais focado em propaganda do que em resultados reais. Não investiu adequadamente em saúde, segurança e educação. No meu governo, fizemos uma gestão focada em pessoas, em resolver os problemas reais da população. O atual governo perdeu o controle da segurança e não tem uma política pública eficaz. A falência é clara e quem sofre com isso é a população.