21 de Dezembro de 2024

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ENTREVISTA DA SEMANA Segunda-feira, 09 de Dezembro de 2024, 14:47 - A | A

Segunda-feira, 09 de Dezembro de 2024, 14h:47 - A | A

ENTREVISTA DA SEMANA

Mesmo com leis claras, Presidente da Acrimat diz encontrar desafios no cumprimento da mesma

Existe ainda uma dificuldade burocrática muito grande para implementar a lei

Redação

No segundo mandato à frente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Oswaldo Pereira Ribeiro Júnior, médico radiologista, encabeçou a chapa “Por uma pecuária rentável”, composta por outros 39 pecuaristas nos cargos de diretoria executiva, conselho fiscal e conselho de representantes regionais, com seus respectivos suplentes.


Neste segundo mandato, Oswaldo buscou aprimorar e expandir os projetos iniciados em sua primeira gestão, a fim de fortalecer ainda mais a pecuária de corte do Mato Grosso.

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Centro Oeste Popular — O senhor poderia explicar, primeiramente, qual a função da Acrimat?

Oswaldo Pereira — A Acrimat tem 52 anos de existência, e, de uns anos para cá, ela se tornou uma entidade de cunho estadual, que vem defendendo os interesses da pecuária. Ela saiu da Baixada Cuiabana e passou a representar todas as regiões do estado. A defesa do parque, que era feita pela Acrimat, hoje ficou a cargo do sindicato rural. A Acrimat, hoje, cuida das demandas estaduais e nacionais, representando as questões do Brasil e do mundo.

Centro Oeste Popular — A sustentabilidade é uma pauta muito comentada, às vezes com fake news. Como a Acrimat tem incentivado os produtores pecuaristas para uma produção mais sustentável?

Oswaldo Pereira — Primeiramente, estimamos que eles sigam o Código Florestal, que já é um código sustentável por preservar 80% da região amazônica, 35% do cerrado e 20% das outras áreas. Seguindo este Código Florestal, o produtor já está dentro de políticas sustentáveis. De qualquer modo, temos incentivado os pecuaristas a não provocar incêndios, que são grandes inimigos de todos, estimulamos a preservação do lençol freático, com a preservação de suas nascentes, e incentivamos o cuidado com o solo. Seguindo estes passos, o pecuarista já está praticando a sustentabilidade.

Centro Oeste Popular — Passamos por um momento em que a tecnologia está presente em todos os setores de produção, e a pecuária não foge dessa norma. Existem projetos referentes ao aumento de eficiência do pasto e produção rural. O pequeno produtor ainda tem certa dificuldade em aceitar algumas, dessas evoluções. Como a Acrimat atua no auxílio a esses produtores?

Oswaldo Pereira — Hoje falamos mais sobre “Pecuária 4.0”, e sem tecnologia não se faz nada. Para se ter lucro, é necessário possuir as ferramentas tecnológicas necessárias. Até um vaqueiro precisa do auxílio de um drone para observar seu pasto, o que facilita o trabalho. A Acrimat tem estimulado palestras sobre tecnologia e temos observado grande presença da juventude. É de extrema importância a juventude na pecuária, pois, são eles quem vão usar as tecnologias, têm menos medo de máquinas.

Centro Oeste Popular — Ainda sobre sustentabilidade, gostaria que o senhor falasse um pouco sobre a lei “Amado de Oliveira Filho”, como ela vai agir no combate a incêndios e à pecuária extensiva.

Oswaldo Pereira — Em 2021, o Código Florestal deixou para o estado resolver algumas pendências, uma delas foi o Pantanal, que é um capítulo à parte da pecuária, não economicamente, mas em significado. Por ser um patrimônio da humanidade, existem pessoas lá dentro que vivem do Pantanal. A lei, que ficou para ser ajustada desde 2012, foi concretizada agora com muito trabalho e conscientização junto ao Ministério Público e aos órgãos de proteção ambiental. Acontece que existe muita resistência em colocar tecnologia e recursos dentro do Pantanal. Um exemplo disso é a grama, que no pasto tinha poucos nutrientes. Com a lei, agora, o produtor pode colocar a meticulosa. Apesar da lei, o produtor ainda enfrenta dificuldades, pois, mesmo com a lei, a SEMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente) não consegue liberar. É uma política importante para a pecuária, pois, não tem como o Pantanal sobreviver sem o pantaneiro, que mantém a ordem das coisas. A lei leva o nome de um técnico que trabalhou muitos anos defendendo essa regulamentação e os interesses dos pantaneiros. Existe ainda uma dificuldade burocrática muito grande para implementar a lei.

Centro Oeste Popular — Qual sua opinião sobre o aumento do preço da arroba e, qual a projeção para o próximo ciclo da pecuária?

Oswaldo Pereira — O pequeno e médio pecuarista ainda está muito desinformado, e isso acaba intimidando o produtor. A Acrimat tem esse papel de levar conhecimento através de aulas e palestras, porque sabemos que o pequeno produtor precisa estar atento às demandas do mercado para que, no futuro, não falte carne. Outro ponto muito importante é que o consumidor saiba que o pecuarista não faz o preço da carne. Temos duas barreiras: primeiro, o frigorífico determina o preço de compra e o mercado de varejo também determina o seu preço. Essa nuance determina o preço final da carne. Respeitamos, mas não podemos responder por esta questão. O preço da carne não depende de nós.

Centro Oeste Popular — Quais os maiores problemas que o setor enfrenta para conseguir atingir as demandas que estão crescendo?

Oswaldo Pereira — Hoje batemos recordes de exportação, mas é importante lembrar que cerca de 75% do produto permanece em solo interno. O maior consumidor do produto é o brasileiro, e apenas 25% vão para fora do país. Exportamos para 145 países, sendo a China o principal comprador e os Estados Unidos, que antes era um concorrente, agora é o nosso segundo maior comprador. Temos animais suficientes para continuar abastecendo esse mercado, seguindo todas as regras. O único entrave são as brigas travestidas de ambientais, que, no fundo, são econômicas, como no caso da França, que precisa dos nossos produtos, mas utiliza subterfúgios para favorecer seus produtos.

Centro Oeste Popular — Ainda existe a ideia de que a Acrimat só trabalha para os grandes produtores e que a maior preocupação são as exportações, mas isso não reflete a realidade, visto que 80% dos produtores são de pequeno e médio porte. Quais estratégias a gestão utiliza para desmistificar esses pensamentos?

Oswaldo Pereira — O nosso objetivo é realmente atender os pequenos e médios produtores, que não possuem um conhecimento técnico nem consultoria. Somos um benefício gratuito para que esses produtores possam desenvolver seus conhecimentos e participar de nossas ações. Temos o projeto Acrimat Itinerante, que neste ano levará informações a 30 municípios. É uma maneira de levar informações aos produtores, para que aprendam a vender, comercializar, aumentar a produção, entre outros aspectos. Estimulamos o pequeno produtor a se associar para que ele fique por dentro de todo o conhecimento.

Centro Oeste Popular — Quais foram os principais avanços desse projeto nos últimos anos?

Oswaldo Pereira — A Acrimat tem uma atuação muito forte no campo jurídico. Com esse projeto, atuamos “dentro da porteira”, ajudando na gestão da pastagem, que é o maior bem do pecuarista. A pastagem é uma cultura perene, que precisa ser cuidada e adubada. A Acrimat tem desenvolvido esse trabalho junto aos produtores, levando conhecimento.

Centro Oeste Popular — Não temos uma pasta dedicada à pecuária. Como o senhor encara essa falta?

Oswaldo Pereira — É importante termos um secretário empenhado na pecuária, na agricultura, em geral, para que haja uma proximidade com o pecuarista, para que seja uma voz direta do setor. É uma demanda que temos, porque, no momento, levamos as questões para a mesma pessoa que também cuida da defesa sanitária, e penso que não cabe a ele. Precisa ser alguém que conheça e participe, seja com viagens, palestras ou visitas. Assim como a segurança pública e a justiça serão separadas, penso que o mesmo deveria ser feito para a agricultura.

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