21 de Novembro de 2024

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ENTREVISTA DA SEMANA Segunda-feira, 04 de Novembro de 2024, 11:27 - A | A

Segunda-feira, 04 de Novembro de 2024, 11h:27 - A | A

ABÍLIO BRUNINI

"Não se trata de uma relação política ou de proximidade; não pretendo tirar fotos ou algo do tipo", garante Brunini sobre o contato institucional com o presidente

O novo prefeito eleito de Cuiabá discute, em coletiva, sua visão para a gestão municipal, as prioridades orçamentárias e o convívio com o governo federal, além de traçar planos para enfrentar os desafios da cidade.

Lucas Leite e Yasmin Yegros da Redação

Abilio Jacques Brunini Moumer, aos 40 anos, nasceu em Cuiabá e possui formação em Arquitetura e Urbanismo. Iniciou sua trajetória política em 2016, quando foi eleito vereador da capital pelo Partido Social Cristão (PSC).

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Em 2020, concorreu à prefeitura da capital mato-grossense pelo Podemos, obtendo a vitória no primeiro turno, mas foi derrotado no segundo por Emanuel Pinheiro (MDB), que conquistou a reeleição com 51,17% dos votos válidos. Em 2022, Brunini tornou-se deputado federal, destacando-se como o segundo candidato mais votado do estado, com 87.072 votos, e o primeiro lugar em Cuiabá. Agora, na última eleição municipal consagrou-se prefeito no segundo turno, ao receber 171.324 votos, ou 53,80%, derrotando o candidato Lúdio Cabral (PT), com posse marcada para janeiro de 2025, ao lado da vice, tenente-coronel da Polícia Militar Vânia Rosa (Novo). É membro da comissão de saúde, casado com a vereadora eleita Samantha Iris (PL) e pai de dois filhos. 

Durante sua campanha, foi apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, recebendo, inclusive, a visita da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em um comício na capital e posteriormente do próprio Bolsonaro. No primeiro turno de 2024, foi o candidato mais votado, com 126.944, representando 39,61% dos votos válidos. Ele substitui Emanuel Pinheiro, que governou Cuiabá por dois mandatos.

Centro Oeste Popular — Qual foi o objetivo da sua visita à Câmara Municipal, logo após vencer a eleição? 

Abilio Brunini — Primeiramente, conversei com os vereadores sobre alguns projetos que nos preocupam, como a LOA (Lei Orçamentária Anual), que pode estar sendo superestimada, a fim de que o orçamento do município não revele um déficit transferido para o ano seguinte. Também abrir um diálogo sobre o plano de retorno, que propõe a expansão da área urbana, uma vez que isso aumenta as despesas para o município sem trazer, neste primeiro momento, uma justificativa clara para o adensamento urbano, o que compromete toda a gestão pública. 

Centro Oeste Popular — A casa justificou a aprovação dessa carta-branca de apoio ao prefeito para o pedido de empréstimo, com a intenção de concluir o contorno leste e o Mercado Municipal, por exemplo. O senhor não considera que esse dinheiro será interessante para finalizar essas obras? 

Abilio Brunini — Existem outras formas de conseguir esses recursos. Para se ter uma ideia, como deputado federal, consegui 77 milhões de reais em emendas; os senadores, mais de 200 milhões; e os deputados estaduais possuem 20 milhões de reais em emendas. Porque a prefeitura optou por contrair um empréstimo com juros altos, ainda mais tendo uma baixa avaliação no tesouro nacional? Com nota C, isso dificulta a obtenção de condições favoráveis de juros e prazos para um empréstimo desse tamanho. Se podemos contar com as emendas e buscar economia na máquina pública, devemos agir de maneira diferente para não comprometer o funcionamento futuro da prefeitura. 

Centro Oeste Popular — O decreto legislativo teria o poder de revogar o empréstimo de 139 milhões? Porque na câmara está tramitando a discussão através de um decreto. 

Abílio Brunini — Primeiramente, não acredito que Emanuel conseguirá contrair o empréstimo, pois, ele tem apenas uma aprovação pela câmara. Para isso, o prefeito precisaria ter agilidade em todos os processos nos últimos meses de mandato. Não acredito que o Tribunal de Contas permitirá que ele faça isso, ou que conseguirá, dado que faltam apenas dois meses, a não ser que haja alguma aceleração desse processo. Se não houver, não haverá avanço. 

Centro Oeste Popular — O senhor já tem uma ideia do valor estimado do orçamento para discutir com os vereadores? 

Abilio Brunini — A informação que obtivemos indica que o orçamento está entre 4,8 e 4,9 bilhões de reais. A previsão é de que haverá um déficit de 400 a 500 milhões de reais neste ano, resultando em um caixa negativo. Eles tentariam transferir essa quantia para as despesas do ano que vem, logo, haveria uma superestimação de 5,2 bilhões para acomodar o que está sendo considerado negativo (pedalada fiscal). Contudo, não faremos essa afirmação antes de termos, acesso aos dados pela equipe de transição. Por isso, creio que é importante a Câmara aguardar um pouco em relação à LOA, para que possamos fazer a compatibilidade dos dados e, a partir daí, apresentá-los. Prefiro que esses valores, mesmo que não sejam reais, sejam informados de forma pública. 

Centro Oeste Popular — Uma das suas bandeiras da campanha do segundo turno foi a revogação da taxa de lixo. O senhor pretende trabalhar com essa legislatura, propondo a algum vereador um decreto ou um projeto para derrubar a taxa de lixo, ou espera também o ano que vem? 

Abilio Brunini — Isso não pode ser uma iniciativa do Legislativo, pois, se trata de uma legislação de iniciativa do Executivo. Portanto, cabe ao prefeito enviar a proposta para a câmara. Se o atual prefeito desejar fazê-lo, ele será lembrado como quem revogou a taxa de lixo. Caso contrário, farei isso. 

Centro Oeste Popular — O senhor revisará algumas concessões da atual gestão, como a taxa do lixo, transporte, Águas Cuiabá e estacionamento rotativo? 

Abilio Brunini — Revisaremos a forma de trabalhar e buscaremos, em acordo com a Procuradoria do município, o parecer adequado para tomar a decisão correta sobre como proceder. Claro que iremos cobrar a execução do serviço conforme o contrato, mas não posso romper contratos sem o parecer da Procuradoria, pois, essa responsabilidade cabe à Procuradoria da Justiça. 

Centro Oeste Popular — A Dra. Lúcia Helena aceitou o convite para ser secretária de Saúde? Já considera outros nomes? 

Abilio Brunini — Aceitou, e acredito que seja a primeira a ser anunciada. Em relação aos outros, não é uma questão de adivinhação; não conversei com ninguém sobre o secretariado. A saúde já estava definida no primeiro turno. É uma pessoa que admiro muito, respeito o trabalho dela e acredito que tenha um histórico de vida na saúde pública de Cuiabá, além de uma boa relação com o Conselho Regional de Medicina, o que pode contribuir conosco. Os demais nomes devem ser escolhidos com calma, pois, ninguém será secretário agora, apenas em primeiro de janeiro de 2025. É importante conhecer bem as pessoas, dialogar, ter um bom relacionamento e, a partir de uma boa compatibilidade de dados, conseguirmos estabelecer as escolhas. 

Centro Oeste Popular — Com relação ao seu secretariado, quando fará esse anúncio? Será através de coletiva? 

Abilio Brunini — No começo de dezembro. Acredito que, como sempre tivemos uma boa abertura com a imprensa, teremos essa ocasião, que acontecerá naturalmente. Vamos informar: "hoje vou anunciar fulano, ciclano", e assim sucessivamente. Não estou com pressa de revelar quem serão os secretários, pois, isso não mudará nada. A posse é em 1º de janeiro de 2025, então anunciar secretários de pasta só aumentaria o assédio a eles e me impediria de realizar o trabalho técnico necessário para preparar o início do ano. Algumas novas pastas poderão ser extintas, enquanto outras poderão ser criadas. 

Centro Oeste Popular — Segundo a máxima, quem ajuda a ganhar ajuda a governar. O senhor abrirá espaço para aqueles que apoiaram sua candidatura, partidos e lideranças em sua gestão? 

Abilio Brunini — Desde o primeiro momento, deixei claro que o secretariado será técnico. A partir dos currículos e competências, haverá espaço político dentro da gestão. Um exemplo é a secretaria de Relações Políticas, onde gostaríamos de construir uma relação com Brasília, então provavelmente tentaremos criar uma secretaria que busque recursos com os deputados federais, estaduais e senadores. Teremos espaços políticos na gestão, onde essa função se encaixa. Já nas áreas de saúde e educação, que são técnicas, não haverá ingerência política; não haverá indicações de vereadores ou de ninguém, apenas serão avaliadas as qualificações para serem inseridas no processo. 

Centro Oeste Popular — Alguns nomes já estão circulando em relação à mesa diretora da Câmara. O senhor defende ou apoia algum, desses nomes? 

Abilio Brunini — Sempre afirmei em minhas entrevistas que a Câmara é independente; não cabe ao prefeito eleito interferir na gestão, isso é responsabilidade dos vereadores. Cada um tem seu voto e posicionamento. É evidente que preferiria que os nomes escolhidos fossem favoráveis à nossa gestão. Todos os nomes são bons e viáveis, e a articulação depende mais deles do que de mim, pois, é uma questão interna. Após a eleição, cada voto tem o mesmo peso, independentemente de quem foi mais ou menos votado. 

Centro Oeste Popular — A empresa cuiabana de Saúde está envolvida em corrupção e ações policiais. É possível realizar manutenções? 

Abilio Brunini — Precisamos avaliar a questão da legalidade, pois, entendemos, por exemplo, que o HMC é habilitado pelo Ministério da Saúde e está vinculado à empresa Cuiabá. O Hospital São Benedito também é habilitado e vinculado à empresa. Para que isso ocorra, haverá uma transição; não é algo imediato, mas requer planejamento e migração para que possamos habilitar via secretaria. Isso não é uma decisão que pode ser tomada agora. Também foi realizado um processo seletivo, e precisamos respeitar as pessoas que foram qualificadas, portanto, isso deve ser tratado dentro da normalidade. 

Centro Oeste Popular — Qual será a sua relação com o governo federal, agora que o senhor foi eleito prefeito de Cuiabá? 

Abilio Brunini — A relação institucional entre o prefeito e o chefe do poder executivo nacional é isso, nada mais. Não se trata de uma relação política ou de proximidade; não pretendo tirar fotos ou algo do tipo. Contudo, nossos representantes buscarão, sim, recursos junto aos ministérios, à Câmara e ao Senado.

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